Há mais que lodo e lama no fundo do mar de Búzios. |
Em meados de fevereiro, cerca de 60 banhistas que
entraram na água na Praia da Tartaruga, em Búzios, foram intoxicados por
substâncias ainda não identificadas pelos órgãos ambientais. Muitos tiveram
reações alérgicas como náuseas, olhos irritados, manchas na pele e lesões nas vias
aéreas.
Procurada pelas assessorias de imprensa, a empresa
responsável negou veementemente que o navio MSC Preziosa ou qualquer outra
embarcação da empresa tenha algo a ver com a contaminação das praias daquela
região. Segundo a assessoria, as manchas no entorno dos navios são apenas o
resultado do funcionamento dos motores das embarcações remexendo o fundo do
mar, uma vez que a profundidade naquele local é pequena. “É possível que
seja lodo, algas, plantas e outras coisas presentes no fundo do mar. Este tipo
de mancha é comum quando os grandes navios passam em áreas mais rasas, fazendo
com que o que está no solo suba até a superfície.”, afirmou Renata Asprino,
diretora de atendimento da Máquina RP, empresa responsável pela comunicação da
MSC.
Atentado à biodiversidade marinha
Se, de fato, a mancha é resultado da ação dos
motores dos navios revolvendo o fundo do mar, isso não diminuiu a gravidade do
problema. A própria associação que representa as empresas de cruzeiros
marítimos, a CLIA Abremar (Cruise Lines International Association/
Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos), emitiu uma nota pública onde
condena a imprensa pela “espetacularização da notícia” no caso da contaminação
das praias de Búzios. Porém, na mesma nota em que ataca a imprensa, a associação
apresenta uma defesa frágil e inconsistente, e volta a afirmar que algumas
manchas no mar são apenas fruto da movimentação do solo do oceano causado pelas
hélices dos navios. “Navios com esse porte tecnológico não produzem
vazamentos de óleo ou de outras substâncias. Mesmo ancorados, eles mantêm um
motor ligado para permitir a geração de energia, a operação dos tenders
e a estabilidade por conta de vento e maré, podendo movimentar a areia ou lodo
do fundo do mar, situação que pode ser confundida por leigos como manchas ou
vazamentos”.
Nesse caso, leiga parece ser a Abremar, que trata o
fundo dos oceanos apenas como um amontoado de areia e lodo, demonstrando
desconhecer a vasta e rica diversidade biológica presente nos solos marítimos.
Biodiversidade que pode se liquefazer sob as hélices dos navios.
Não é de hoje que são registradas agressões ao
litoral brasileiro causadas por navios de cruzeiro. A própria MSC, em janeiro
desse ano, foi acusada por um passageiro de jogar sacos de lixo no litoral de Fernando
de Noronha.O caso teve grande repercussão e causou revolta em muitos
brasileiros.
Foto: Manual dos Conselheiros – Parque Natural dos Corais/Búzios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário