quarta-feira, 9 de abril de 2014

A mancha no mar de Búzios e seus segredos

Há mais que lodo e lama no fundo do mar de Búzios.

Em meados de fevereiro, cerca de 60 banhistas que entraram na água na Praia da Tartaruga, em Búzios, foram intoxicados por substâncias ainda não identificadas pelos órgãos ambientais. Muitos tiveram reações alérgicas como náuseas, olhos irritados, manchas na pele e lesões nas vias aéreas.

Procurada pelas assessorias de imprensa, a empresa responsável negou veementemente que o navio MSC Preziosa ou qualquer outra embarcação da empresa tenha algo a ver com a contaminação das praias daquela região. Segundo a assessoria, as manchas no entorno dos navios são apenas o resultado do funcionamento dos motores das embarcações remexendo o fundo do mar, uma vez que a profundidade naquele local é pequena. “É possível que seja lodo, algas, plantas e outras coisas presentes no fundo do mar. Este tipo de mancha é comum quando os grandes navios passam em áreas mais rasas, fazendo com que o que está no solo suba até a superfície.”, afirmou Renata Asprino, diretora de atendimento da Máquina RP, empresa responsável pela comunicação da MSC.

Atentado à biodiversidade marinha
Se, de fato, a mancha é resultado da ação dos motores dos navios revolvendo o fundo do mar, isso não diminuiu a gravidade do problema. A própria associação que representa as empresas de cruzeiros marítimos, a CLIA Abremar (Cruise Lines International Association/ Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos), emitiu uma nota pública onde condena a imprensa pela “espetacularização da notícia” no caso da contaminação das praias de Búzios. Porém, na mesma nota em que ataca a imprensa, a associação apresenta uma defesa frágil e inconsistente, e volta a afirmar que algumas manchas no mar são apenas fruto da movimentação do solo do oceano causado pelas hélices dos navios. “Navios com esse porte tecnológico não produzem vazamentos de óleo ou de outras substâncias. Mesmo ancorados, eles mantêm um motor ligado para permitir a geração de energia, a operação dos tenders e a estabilidade por conta de vento e maré, podendo movimentar a areia ou lodo do fundo do mar, situação que pode ser confundida por leigos como manchas ou vazamentos”.
Nesse caso, leiga parece ser a Abremar, que trata o fundo dos oceanos apenas como um amontoado de areia e lodo, demonstrando desconhecer a vasta e rica diversidade biológica presente nos solos marítimos. Biodiversidade que pode se liquefazer sob as hélices dos navios.


Não é de hoje que são registradas agressões ao litoral brasileiro causadas por navios de cruzeiro. A própria MSC, em janeiro desse ano, foi acusada por um passageiro de jogar sacos de lixo no litoral de Fernando de Noronha.O caso teve grande repercussão e causou revolta em muitos brasileiros.


Foto: Manual dos Conselheiros – Parque Natural dos Corais/Búzios.

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